sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

O inesperado

(Não devemos registrar nossas idéias quando estamos bêbados: nem por telefone, nem por e-mail, nem mesmo Facebook ou twitter que possuem o delete. Mas não posso deixar de relatar o que acontece agora, bêbado que estou de alegria pelo Egito)
Há coisas que não esperamos. Ano passado ganhei de presente um iPod de minha amada... Foi surpesa friamente calculada, o bichinho ficou escondido meses em minha casa antes de se revelar. Estranhei o aparelhinho no início mas, como costuma acontecer, gostei dele. Reconheço que me tornei um quase dependente dessa prótese (o que me requenta os tempos de infância quando a-do-ra-va o personagem Doc do desenho Galaxy Rangers...ele tinha um iPod!!).
Pois bem, há alguns dias eu baixei a Al Jazeera para acompanhar ao vivo as movimentações no Egito cuja cobertura pela nossa imprensa, obviamente, foram pífias (e continuarão a sê-lo). Virava e mexia, nas situações mais bizarras que a portabilidade permite, estava eu assistindo o povo na Praça Tahrir, encantado com a resistência crescente do povo egípcio...
Ontem, ao chegar de Campos, Renata me disse que Mubarak havia feito um pronunciamento afirmando que não sairia e eu disse: então ele vai sair! Especulação pura, um relógio parado acerta duas vezes a hora todo dia, mas a massa não parava de crescer na praça desde o dia do despejo quando o ditador teve sua chance de sair ainda sem o rabo entre as pernas mas desconfiou do inevitável. Eu simplesmente chutei que ele sairia devido ao comportamento usual dos políticos cretinos que sempre afirmam o contrário de suas ações, e fiquei na torcida...esperando...esperando o quê?
Deixei meu iPod ligado enquanto resolvia coisas no computador e, de repente, olho e vejo o vice-presidente realizando um anúncio, sem prestar muita atenção no conteúdo... E eis que uma das coisas mais incríveis aconteceram. No volume máximo, meu iPod começou a gritar e gritar anunciando a alegria de milhões de egípcios diretamente da praça Tahrir que, neste momento, chamava-se Egito; segurei-o com as duas mãos e ele vibrava, vibrava enquanto eu me arrepiava e meu olhos se enchiam d'água por estar ali carregando a liberdade tão pertinho de mim...
Havia um locutor de rádio em BH, Willy Gonzer, que era adorado por sua torcida atleticana. Ele parou de narrar os jogos do Galo há uns dois anos. Willy era muito sensível e, na hora do gol, antes de dar o grito derradeiro, deixava correr o som do estádio: mudo segundos antes da bola entrar e se explodindo logo depois junto com seu grito de gol... Era lindo ouvir a torcida...Nunca vi um narrador assim. Da mesma forma, a generosa Al Jazeera, ao contrário das outras todas emissoras, soube respeitar o momento e se calou, transmitindo por uns dez minutos imagens ao vivo com som local, aquela gritaria feliz, assovios, choro, abraços...uma torcida comemorando todos os gols da história do seu time.
Há coisas que inesperadas: elas podem se chamar presentes, mas podem também se chamar revolução!





terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Caiu na rede é peixe

Não acredito em muita coisa...deixei de crer em deus há algum tempo...não acredito em duendes, anjos, fadas, espíritos...não acredito na lei de mercado e muito menos no estado centralizador...não acredito na democracia que está aí, aliás, não acredito que vivemos em uma democracia, conseqüentemente, sou muito refratário à via eleitoral...mas, creiam vocês, acredito nos homens.
Este post é sobre algo que não acredito: sites de "compras coletivas" cujo o mais famoso, para mim, é o tal do Peixe Urbano.
Muita gente tem embarcado nessa nova onda internética medioclassista (não acredito na classe média também, rs, mas não sei onde foi parar o operariado, rs) crendo estar fazendo um bom negócio. A questão é: bom negócio para quem? Para mim, nunca será bom negócio me inscrever em algo que fomenta a compra daquilo que não quero (não acredito em publicidade). A lógica apregoada destes sites é de que, comprando em coletividade, consegue-se preços melhores do que aqueles praticados pelo mercado...um "vantajão"... Enxergo estes sites de uma forma bem distinta: precisam vender algo, anunciam ali como queima de estoque e você compra, isto é, trata-se de uma última tentativa da fuga do prejuízo, uma ferramenta administrativa pós estoque que beneficia aqueles que não conseguiram fazer um bom planejamento de vendas e, pasmem, mantém os preços do mercado mais altos! Sim, pois se os produtos não estão vendendo como deveriam, o ideal seria que a produção se diversificasse ou mesmo que seu preço abaixasse, no entanto, quando um produtor consegue vender o restolho de seu prejuízo, ele pode muito bem manter os preços como estão e, na hora H, lançar mão destes sites de "compra coletiva", ou "distribuição coletiva do prejuízo": trata-se de uma armadilha em forma de sedução (isto analisando apenas pela lei de mercado da oferta e da procura...e, advinhem, eu também não acredito nela).
Mas além de toda essa simplória análise da cadeia produtiva, existe uma questão que, para mim, é mais grave: quem disse que eu quero comprar o que oferecem? A última coisa de que preciso é mais um lugar me dizendo o que fazer, o que comprar, quando e onde fazê-lo. Estes pequenos hábitos nos tornam mais e mais consumistas e, por mais que o consumo seja uma coisa boa, assim como o mercado também o é, o risco que se corre é dar-lhes uma primazia sobre sua vida, isto é, quando mercado e o consumo passam a controlar seu hábitos é que é o problema. E estas ferramentas de compras não são nada mais do que isso, mais uma forma de te impelir o consumo que você nem pensava em fazer: mas tá tão barato...
Ou seja, quem decide sua vida? Sei que isso pode soar exagerado, mas creio nas pequenas formas de controle como sendo muito poderosas (evito ser acadêmico demais aqui neste blog, mas a microfísica do poder foucaultiana está aí para nos provar que não minto sozinho).
Estes sites aceleram nossa vida para a velocidade cada vez mais extenuante do mercado. Criam um modo de vida que se utiliza da forma de interação das redes sociais, mantendo-nos presos e curiosos todo o tempo, sempre ligados, mas, neste caso, para fins unicamente de consumo. Prefiro manter uma vida mais lenta, aprender com a vagareza, compreender o homem lento de que Milton Santos tanto nos dizia (ai, a academia)... Nem tudo é bom na modernidade, pelo menos eu não acredito que tudo o seja...pelo menos não para mim...

P.S.: Este post surgiu do comentário da amiga Clarisse Bressan, médica, comentarista profissional e cantora em seu Facebook: "Não tenho velocidade suficiente pra comprar em sites de compras coletivas"...Nem eu, minha cara, nem eu...


Acho que essa imagem já apareceu nesse blog...mas vale o repeteco.