quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Sobre o risco de ser arquiteto - 2

Depois de um merecido distanciamento das letras duras, na praia e na chuva, volto a pesar meus dedos no teclado, renovado (eu, não o teclado que já está meio encardido)...
Há alguns anos atrás visitei Congonhas do Campo, uma das "jóias" do barroco mineiro, para realizar uma delimitação do perímetro de tombamento daquela cidade. Esta foi uma das minhas primeiras atividades como profissional urbanista. E dela não saí impune.
Lembro-me de minha decepção em relação à cidade, sua feiura devido a todos os estragos causados por anos sem uma política eficaz de preservação de seu centro histórico. Nesta reação à visita a campo residem dois riscos de ser urbanista e também arquiteto.
O primeiro deles, que me incomodou durante muito tempo, é o vício do olhar. Apesar de nos debruçarmos sobre as cidades com todo o empenho, e talvez por causa disso mesmo, acabamos por encontrar diversos defeitos em todas elas logo a partir do primeiro olhar. A feiúra nos salta aos olhos de maneira impiedosa, os problemas urbanos logo nos tapam a beleza das construções, das serras, dos jardins...O mesmo deve acontecer em diversas profissões quando em contato com seu objeto de trabalho, no nosso caso, a cidade, ou seja, a plenitude do espaço, o que me gerava certo incômodo constante. Às vezes desejava ser cineasta, ou fotógrafo para, ao invés de encontrar problemas, procurar belas visadas e encarar a cidade como um cenário dinâmico e pronto a receber qualquer olhar.
Não cursei cinema (ao menos ainda), mas já resolvi, ou melhorei, bastante esse desvio do olhar pessimista. E a forma como isso se deu remete ao outro risco de ser arquiteto e urbanista acima referido, que será deixado para a próxima postagem por economia de espaço e de cabeça mesmo.


Um comentário:

barbara disse...

Não concordo com você, cláudio. Acho que talvez tenhamos a mania de achar que as pessoas pensam como a gente pensa. Exemplo bem fútil: uma pessoa que pesa 70 quilos emagrece 5 e sai na rua achando que todo mundo tá olhando pra ela como uma deusa, maravilhosa! Porém, se essa mesma pessoa estava com 60 quilos e engorda 5, ela sai na rua achando que todo mundo olha pra ela e vê a pessoa mais feia do mundo. Neste caso, são os mesmos 65 quilos, e a gente molda o olhar e/ou o jeito de pensar das pessoas pelo nosso. Mas um pouquinho de exercício de observação pode nos mostrar que estamos errados ao fazer isso (já consegui fazer alguns, mas não lembro agora pra poder exemplificar). Voltando ao assunto: eu nunca tive este olhar pessimista que percebe os defeitos e a feiúra (vixe, agora é feiura, né?) em detrimento de outros aspectos em cenários novos, cidades que visito pela primeira vez. Dá-se exatamente o contrário, no meu caso. Bom, mas talvez, agora seja eu quem ache que os arquitetos têm um primeiro olhar sobre uma cidade como eu, e não como você, para vir aqui dizer que não concordo com você...