segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

Laerte e o fim do dualismo

Sei que o assunto já foi mais que explorado pela mídia, mas considero Laerte "a" personalidade de 2010. Sua postura colocou muita coisa em questão. Não, sua postura colocou muita coisa importante em questão.
Muito além da sexualidade, ele tocou em um ponto que devemos nos atentar: o dualismo. Estamos acostumados a pensar e agir de forma dualista e isso é, na minha opinião, um entrave para uma transformação social de fato. Se antes pensávamos, para começar com a bola levantada por Laerte, em dois sexos, depois de muita luta pelo reconhecimento da homossexualidade passamos de um dualismo a outro. Do masculino versus feminino fomos para... o homossexual versus heterossexual. Simples assim, dualista assim, preto no branco assim. Pobre assim.
Daí vem Laerte e coloca o dedo na ferida.
Da mesma forma agimos em diversos outros campos, por exemplo, como no caso eleitoral. Ou se era Dilma ou se era Serra, ou se era PT ou se era PSDB. Quanta falta de imaginação. Quantas mil vezes eu criticava a Dilma e tinha sempre que terminar obrigatoriamente com a frase: critico Dilma, mas não apoio Serra. Trata-se de uma idéia muito pobre de escolha como que derivada entre a velha e inexistente batalha entre o bem e o mal, entre democratas e republicanos, zzzzzzzzzzzzz...
Dualismo dá sono, empobrece o debate e enfraquece a possibilidade de mudança. O que me surpreende é que a sociedade brasileira tem todos as razões de romper com o dualismo: não somos pretos nem brancos, não somos centro e tampouco periferia; não jogamos basquete, mas futebol (o esporte menos dualista de todos, pois há sempre a possibilidade de ninguém ganhar e mesmo dos dois times perderem). Mas, ainda assim, recaímos sempre no comportamento hegemônico do dualismo... observemos isso e nos transformemos: há muitas opções para tudo neste mundo, o ser humano é improvável, imprevisível e surpreendente, não recaiamos na chatice da previsibilidade.

Dualistas de todo o mundo, imaginem!


domingo, 9 de janeiro de 2011

Da difícil (e prazerosa) tarefa de escrever...

Há quase um ano não escrevo aqui. Mas, depois de muitas tentativas de volta - e espero não parar de escrever daqui pra frente - retorno à minha escrita... Mudarei algumas coisas neste blog, o que significa que não escreverei exclusivamente sobre a relação entre literatura e a cidade. O tema, obviamente, não será abandonado de vez, mas não será obrigatório, afinal de contas não faz muito sentido eu me ver castrado por uma regra que eu mesmo criei. Depois de romper com Deus a última coisa de que necessito é de um novo impostor de regras.
Escrever não é fácil. Cada dia fico mais acostumado a apenas ler ou ver; e, de forma bastante incômoda, escrever fica sempre pra depois, mas por quê? Suponho haver um zilhão de respostas a isso, desde a formação educacional que não nos estimula à ação até mesmo às facilidades que a passividade nos oferece cada vez mais: tornamo-nos "seres informados" pelos twitters da vida (que eu adoro) e divulgamos informações de forma tão rápida que beira a náusea, mas ao mesmo tempo nos transformamos em seres que não produzem informação. E escrever é produzir. E produzir não é fácil. No entanto, ao contrário do que pensam aqueles que igualam dificuldade com sofrimento, eu acho que produzir é extremamente prazeroso. Difícil e prazeroso, escrever é assim.
Ao mesmo tempo é arriscado demais escrever, pois corremos um risco enorme de sermos lidos. Sermos lidos... É um pouco assustador, mas faz parte da ação, da produção, da escrita, da disputa. Escrever é disputar, é dar a cara a tapa, é apanhar, é bater, berrar, beliscar, bolinar, burlar, brigar, beneficiar, brincar, batizar, bolar, bilhar, bala, bela, bila, bola e bula.
Como é bom! Mesmo quando é um textinho sem vergonha apenas para aquecer os dedos e o teclado, já faz uma diferença enorme tê-lo postado, com a última ressalva aos possíveis leitores que as próximas produções serão mais interessantes que essa, pois escrever também é transformar!