quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Sobre o risco de ser arquiteto - 1

Como tudo nessa vida, a arquitetura tem seus altos e baixos. Mas este clichê não impede que se tente decifrar certas especificidades da profissão. Assim como o médico pode acabar, como anda contecendo com cada vez mais frequência, numa espécie de técnico (mercenário?) que observa um corpo, morto ou vivo, como se fosse um escritório, uma parede ou um investimento, corre o arquiteto o risco de enxergar assim a cidade. 
E eis que o arquiteto se torna, ao invés de um escritor, um editor, e cada chance de criar um espaço novo é abandonada pelo simples fato de que a criação pode lhe perceber rendimentos menores que se encarada fora do âmbito da criatividade. O arquiteto tem sempre optado por esta opção e as cidades ficam cada vez mais sem novidades reais. Quem já viu o novo centro de convenções do Rio de Janeiro sabe o que estou dizendo.
Mas este risco não foge ao clichê acima colocado. Tal característica perversa é inerente ao sistema social vigente que se crê eterno e as profissões como um todo se deformam nesta direção. Aliás se deformam ainda mais porque os profissionais se sentem na responsabilidade de não sair da linha de seu conhecimento nem por um milímetro. O arquiteto será arquiteto e lerá sobre arquitetura, falará sobre isso e verá nos filmes apenas as questões referentes ao seu métier. Esta padronização, que além de inerente é necessária ao sistema, gera, menos que especialistas notórios, míopes analfabetos funcionais. Iletrados inclusive no que se refere à gramática da cidade...cidade que ele mesmo deveria saber não apenas ler, mas escrever.

Segue o link para o Centro de Convenções (que foi "incorporado" por uma seguradora, bem à maneira Rio de Janeiro de ser). O prédio é aquilo que aparece no banner animado ao alto da página:

Achei também o escritório que fez o projeto, para voces compararem o projeto e a execução e chegarem às conclusões que quiserem:


P.S.: Não foi este edifício o motivo de minha escrita, ele acabou ganahando destaque por ser um exemplo mais recente e de muito impacto e, como os possíveis leitores desse blog não devem conhecer a obra, achei bom colocar os links a título de ilustração, ao invés de postar uma foto como faço usualmente. 

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