Entrar amanhã na FAU será
diferente de todas as outras vezes já feitas por mim. Desde que me mudei para o
Rio em 2004 aquele prédio é parte presente em minha vida. Por incrível que possa
parecer, para este mineiro que se mudou para o litoral não são as praias da zona
sul a paisagem mais marcante do meu Rio de Janeiro, mas a Ilha do Fundão e,
mais especificamente, o prédio da FAU.
Amanhã esta paisagem se alterará.
Porque amanhã será o primeiro dia que pisarei aquele prédio sem poder encontrar
Ana Clara. A Professora Ana Clara Torres Ribeiro foi uma das pessoas mais
marcantes que conheci. E que conhecerei. Sua ausência precipitada anunciada de
supetão nesta última sexta-feira criou um vácuo que nunca será preenchido. Nunca. Porque a vida é assim, construída com presenças. Presenças não são mensuráveis,
portanto, são insubstituíveis. O vazio criado pela ausência de Ana Clara
permanecerá, não há nada que o preencha.
Haverá, no entanto, o aprendizado. Ana
Clara me ensinou com toda sua doçura a enxergar e entender a brutalidade
brasileira para saber combatê-la. Ensinou-me que o pensamento percorre trajetórias
as mais impossíveis, inclusive as mais prováveis e pode, por isso mesmo, nos
surpreender; da mesma forma mostrou como somos capazes também de surpreender com o nosso
pensamento mas, sobretudo, com nossa ação. Ana Clara, com sua ação em sala de
aula me ensinou muito além de todo o conteúdo teórico, ensinou-me o prazer de
ser aluno ao mesmo tempo em que me mostrou como é bom ser professor. Ela tinha
essa capacidade, conciliando ação e pensamento, de nos aplicar a própria teoria
ensinada combatendo a brutalidade com sua prática. Isso tudo ficará.
Mas seus sorrisos, seus abraços e seu carinho, essas ausências todas deixarão, para sempre, mais frio todo o prédio da FAU, a partir de amanhã...
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